Estudos

Tempo de tela na infância não tem impactos no desenvolvimento neurológico

Pesquisa de doutorado da UFPel aponta que ficar de olho nos dispositivos não tem efeito clinicamente significativos nas crianças até cinco anos

Foto: Carlos Queiroz - DP - Francisco Rossal tem feito visitas constantes aos municípios do interior

Uma determinação da Organização Mundial da Saúde (OMS), que recomenda no máximo uma hora de o uso telas na infância por dia - para crianças entre dois e cinco anos - instigou pesquisadores da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Eles realizaram um estudo com apontamentos relevantes para o atual debate em torno do tempo que crianças passam em frente aos aparelhos (TV, tablet e Smartphone). No entanto, não foram identificadas associações consistentes entre o tempo gasto em dispositivos e o desenvolvimento neurológico das crianças.

"Recomendações de saúde pública sugerem que crianças com menos de cinco anos devem ter o tempo de tela limitado a menos de uma hora por dia. No entanto, o impacto total do tempo de tela sobre o neurodesenvolvimento na primeira infância ainda não estava claro", diz Otávio Leão, autor da pesquisa desenvolvida em trabalho de doutorado do Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia da UFPel, sob orientação da docente do programa, Andréa Dâmaso. O próprio documento da OMS diz que as recomendações são baseadas em evidências de baixa qualidade, o que deixou o pesquisador intrigado, já que também atua em estudos de atividade física e sedentarismo. Diante do desafio, o professor utilizou os dados da Coorte 2004 e de 2015, isolando o tempo apenas do uso de tela, sem levar em conta o conteúdo.

A investigação foi sobre o tempo que passaram em frente à televisão aos dois e aos quatro anos de idade, assim como o uso de outros dispositivos eletrônicos aos quatro anos. O neurodesenvolvimento infantil foi avaliado aos quatro anos de idade usando o Inventário de Desenvolvimento Battelle. Os pesquisadores analisaram a associação entre: (i) tempo gasto assistindo televisão aos dois e quatro anos; (ii) tempo gasto em outros dispositivos de tela aos quatro anos; e (iii) tempo total de tela aos quatro anos (televisão + outros dispositivos) com o neurodesenvolvimento infantil aos quatro anos. Os resultados mostraram que o tempo total de tela aos quatro anos em 2004 era de 3h40min e aumentou para 4h40min em 2015. "Apesar de algumas associações estatisticamente relevantes, mas de magnitude muito pequenas e em direções opostas serem encontradas, a pesquisa não identificou impactos clinicamente significativos".

Tempo limitado
A habilidade com o celular surpreende. A pequena Manuela Barros, de cinco anos, adora Jovens Titans e, segundo a mãe, Tauane Barros, 19, se deixar, passa o dia inteiro. Por isso, ela busca sempre limitar.

Sem saber do estudo, a autônoma Larissa Silva da Luz, 26, já faz o dever de casa. Ela baixou um aplicativo que permite ao pequeno Miguel, de três anos, ficar conectado por duas horas, pois após o período, o aparelho desliga. "Ele passa o dia na escolinha e, em casa, assiste YouTube Kids entre 19h e 21h. Esta é a forma de controlar o tempo e o conteúdo", explicou a mãe. Já a zootecnista Elisangela Ricardo, 35, controla a permanência do filho Gabriel, de quatro anos, interagindo com ele na hora de assistir televisão. "Senão ele fica tempo demais. Mesmo assim, temos que avaliar as vantagens desses dispositivos, pois meus filhos, tenho um mais velho, são bem espertos e já estão aprendendo bastante o inglês", admite.

A diretora e pedagoga da escola Crescer Brincando, Daiane Sudo Cabana Goia, 43, prefere limitar ao máximo o uso das telas (TV, tablet e celular), pois as crianças devem ser estimuladas a brincar e interagir com o meio que ela convive, no caso do ambiente escolar. Para a pedagoga, a escola é totalmente preparada para oferecer estes estímulos, pensando sempre no desenvolvimento cognitivo e no bem-estar das crianças. "O uso de telas, acaba gerando uma enorme ansiedade nessa fase, o que pode desencadear inúmeros problemas no desenvolvimento dos mesmos", considera.

Leão sabe que o assunto é polêmico, mas sugere que a tela não seja vista como um "demônio", pois ajudou muito na pandemia com aulas online. Ele ressalta, entretanto, que a atividade física deve ser sempre estimulada. "O tempo em tela pode tirar o tempo de outras atividades", avalia. Para o pesquisador, é importante considerar outros aspectos relacionados ao uso de telas, além da quantidade de tempo em si, ao estabelecer diretrizes para a população pediátrica e que as recomendações sobre a exposição aos dispositivos para crianças deveriam focar em outros aspectos, além do simples tempo, levando em consideração o conteúdo e a interatividade das mídias, por exemplo.

Evolução
A pesquisa sobre o tema, segundo Leão, está em constante evolução, e mais estudos são necessários para fornecer uma visão abrangente. "Os resultados deste estudo são um passo importante nessa direção e podem ajudar pais, cuidadores e profissionais de saúde a tomar decisões sobre o tempo de uso de telas entre crianças menores de cinco anos", diz o pesquisador ao lembrar que o futuro vai ser digital.

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